A Equilibrista

Clara Bernardes
2 min readOct 18, 2020

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Era uma vez uma jovem equilibrista que equilibrava seus pratos com maestria. Cada prato um eixo de sua vida: pessoal, profissional, seus sonhos e amores. Todos perfeitamente equilibrados. Ou pelo menos, era isso que ela supunha.

Um dia um dos pratos caiu, sucedido por outro, por outro e por outro. Todos os seus pratos em pedaços no chão, assim como seu coração. Falhou em equilibrar seus pratos, e sofreu por isso. Sofreu pelo engano de achar que poderia ser equilibrista.

Sentiu uma dor imensa! Olhou para seus braços e percebeu que estavam exaustos. Assim como ela, de tanto tentar equilibrar os pratos. Se perguntou como pode ter chegado a tal ponto. Tentou dar seu melhor e adoeceu num tanto. Quanta dor, quanto cansaço, quanto sofrimento estavam guardados. Esses cresciam a cada dia, enquanto ela distraída, equilibrava seus pratos. No momento em que se deu conta, tudo estava despedaçado.

A equilibrista foi forçada a mudar de postura. Seu corpo não mais suportava, seu ventre pedia socorro. Quando ela começou a realmente cuidar de si, percebeu que sua tentativa de deixar tudo perfeitamente equilibrado, na verdade, foi a causa de seu desequilíbrio. Na terapia aprendeu que a vida não é linear, que é preciso ter calma. “Um passo de cada vez”, como diz sua terapeuta. Uma batalha interna e invisível para ajustar o desequilíbrio, foi iniciada.

Entre início e o fim, o meio. O meio de angústias, de descobertas e reposicionamento. No meio, também existiu amor. O amor de seus amados que se transformou em força para continuar. A dor também foi, também é, bonita ao ponto que faz parte de um processo necessário. A dor ensina tanto quanto o amor.

Entre sessões terapêuticas, consultas, rastreios e check-ups, nasceu uma nova equilibrista. Surgiu cambaleante, porém disposta a reconquistar sua paz interior. Seu tão sonhado equilíbrio. No processo, descobriu que seus pratos poderiam ser equilibrados de forma mais tranquila. Sem cobrança, sem agonia, sem perfeccionismo.

Descobriu como nutrir seu corpo, respeitando o seu metabolismo. Compreendeu que a paciência seria sua melhor aliada no gerenciamento do estresse. Com a mudança, a equilibrista encontrou o silêncio para ouvir as necessidades do seu Eu interior. Começou a enxergar seu corpo e a ouvi-lo. Com paciência, com calma.

Percebeu que nada é mais importante do que ela mesma, que as demandas externas não podem, jamais, ser superiores ao seu bem-estar. Abraçou o processo que mudou a sua vida e agradeceu pelo momento em que todos os pratos se espatifaram no chão. O barulho da louça foi seu despertar. No reflexo dos pratos estilhaçados ela, finalmente, se encontrou.

A Equilibrista. Colagem artística de Lóide Panza.

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