Fotografia Sentimental

Clara Bernardes
2 min readDec 15, 2021

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Recebi uma mensagem anexada a uma foto com os dizeres: “estou aqui no restaurante”. A imagem exibia um salão central adornado com peças de artesanato, cores vibrantes, símbolos todos que remetem à cultura regional. Recordei que ela sempre quis me levar nesse lugar.

Essa foto me trouxe lembranças deliciosas do período em que morávamos na mesma cidade e podíamos nos dar o luxo de aproveitar a presença física, a atenção em corpo presente. Lembrei de quando a vi pela primeira vez e tive a certeza de que nos daríamos bem. Meses mais tarde descobriríamos o porquê da conexão de nossa amizade.

A chegada da foto me deixou nostálgica, me fez desejar estar ali para fazer acontecer o encontro no bendito restaurante. Lembrei de quando entramos madrugada adentro dançando carimbó, de como achava bacana o jeito forte e independente com que ela segurava o volante e filosofava junto comigo numa conversa mística-política-social-existencial. Provavelmente se alguém nos ouvisse naquele momento pensaria que nos faltava sanidade.

Sinto falta da receptividade, do espaço íntimo construído em conjunto, onde é possível habitar com liberdade de ser, de fato, quem se é. Estimo a tranquilidade que surge da troca por sentir-se em casa e fazer-se casa para outrem que reflete em mim aconchego.

É benção construir estruturas que causem a sensação de preenchimento, de riqueza por ter a companhia de uma pessoa que carrega luminosidade; um olhar sábio e renovado que auxilia a vivência de existir em uma realidade que, por vezes, carece de afeto.

O valor da amorosidade que não pode ser comprada, mas, sim, cativada torna o encontro especial. Apesar da nostalgia, sou feliz porque a cumplicidade se encaixa em nós independente dos milhões de passos que, fisicamente, nos separam.

Tapiocaria, julho de 2021. Fotografia de Any Maria.

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